Resenha: Terra Amaldiçoada

  

Título: Terra  Amaldiçoada

Autor: Douglas Lobo

Páginas: 143





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     "Terra Amaldiçoada" chegou de surpresa do autor. Aproveitei isso e mergulhei na leitura sem ter lido a sinopse. Aliás, a única coisa que eu sabia era que se tratava de um terror, pois isso foi a única dica que o autor deu no bilhete que veio junto.

     Partindo deste princípio vale esclarecer uma questão: O que é realmente o terror?

     Metaforicamente a definição é esta: Terror é quando sentimos somente o cheiro da morte. Horror é quando tropeçamos no corpo. Ou seja, no gênero terror sentimos aquela agonia e a dúvida do 'será que é agora?', já no horror, a morte é bem descrita, podemos visualizar a faca entrando na vítima e assim por diante.


"Teve que se sentar. Uma formiga preta tentou subir por sua mão esquerda. Descartou-a com a outra. Tentava se erguer pela segunda vez quando ouviu um farfalhar vindo do capão."
Pag. 44


     Então já adianto que este livro tem um tanto de terror e uma pitadinha leve de horror. Um suspense muito bom de ler e que deixa o leitor ávido por mais e mais páginas.

     Fabrício nasceu e viveu no Piauí, mas depois de formado foi para São Paulo ganhar a vida. Na verdade, Fabrício nunca sentiu-se em casa na sua própria terra. Ele se sentia bem na cidade grande. Nem quando seu pai morreu ele voltou.

     Só uma coisa fez com que ele voltasse, Fabrício foi demitido, e por isso decidiu ir visitar sua família por duas ou três semanas no máximo e depois voltar pra São Paulo e procurar outro emprego.


"Será que realmente escolhemos nosso caminho ou ele já é, de antemão, direcionado? Getúlio nasceu para essa terra, e ele, Fabrício, para fugir dela?"
Pag. 36


     Chegando lá o que ele encontra não é nada do que ele havia deixado. Sua mãe parece fraca e doente, seu irmão Getúlio parece triste, ou talvez revoltado, mas ambos, de alguma maneira, se mostram felizes com a vinda de Fabrício. Além disso, tudo mudou. As terras próximas a de sua família já foram quase todas vendidas, e parece que isso é o que deve acontecer com as suas terras também.


"O que era aquilo? Sentiu uma golfada na garganta, um frio gélido percorria sua espinha, enquanto aquilo, homem ou animal, aproximava-se, ele nada via, o negrume a tudo encobrindo, as mãos dele tremiam,..."
Pag. 45


     E enquanto ele tenta entender essa modernidade toda se aproximando, algumas mortes começam a acontecer. São muitos os suspeitos, desde sem-terras até um espírito maligno que assombra tudo por lá.


"Um terceiro golpe derrubou o animal de banda, as pernas sacudindo-se convulsivamente, nos estertores. Uma baba branca começou a escorrer por sua boca, caindo até o solo."
Pag. 50


     Não posso avançar mais na história dele e do que acontece no Piauí porque o livro tem menos de cento e cinquenta páginas e qualquer coisa que eu diga além do que já foi dito seria considerado spoiller.

     "Terra Amaldiçoada" é narrado em terceira pessoa, tendo o ponto de vista principal o de Fabrício Machado, que é o protagonista no meu entendimento.

     Algumas vezes esse narrador pula para outros personagens e acontecimentos, mas sempre volta para Fabrício.


"O que dera em Zé das Carnes, pensava Getúlio? Cadê a coragem que ele mostrava nas histórias que contava? Tinha enfrentado onça, jagunço, índio e agora tava com medo de uma mulher? Uma mulher filha de peão?"
Pag. 23


     Uma coisa que me agradou demais foi justamente o lugar onde tudo acontece, o Piauí. Nunca li um livro que trouxesse tantas curiosidades sobre esses "sertanejos", os fazendeiros, como vivem da terra e do gado, os enfrentamentos com os sem-terras e com a cultura indígena. São termos novos pra mim e me agradaram demais. Um mundo novo dentro do meu próprio país.


"Aprumou-se na cadeira e olhou através da janela, à direita. Viu de relance um vulto descendo pelo barrando, rumo ao baixiu."
Pag. 63


     Eu defendo muito a literatura nacional - quem acompanha o blog sabe bem disso. - Mas atrelado a literatura vem a gramática e a ortografia. Ambos devem caminhar bem juntos. E justamente por isso eu ainda bato na tecla que os autores nacionais devem escrever de acordo com a nossa língua e nunca "americanizá-la". Os diálogos devem obrigatoriamente serem precedidos de um travessão e nunca com aspas. E só por isso o livro não levou todas as estrelas no skoob. Espero que o autor não leve a mau. Espero sim que ele tome isso como uma dica para suas próximas obras. Afinal, esse talento todo não pode ficar só neste livro. Quero muitas outras histórias, e se for no nordeste é melhor ainda!

     O livro é uma publicação independente, então acredito que a capa e o trabalho gráfico tenham sido fetos pelo autor, ou pelo menos ele deve ter auxiliado bem, a capa é maravilhosa e a diagramação está linda! Um trabalho perfeito para este livro!

     Recomendo!!
















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10 comentários

  1. Como não conhecia o livro, foi uma grata surpresa ler esta resenha e mais ainda, ler a definição de terror e horror tão explicadas assim! Eu nunca havia lido ou visto nada a respeito..rs E amo os dois estilos. Mas o terror ainda mais. O psicológico é algo extremamente rico...e isso mexe com não só a mente, mas o corpo também!!
    Quero muito conhecer a história e entender também essa vida do sertanejo do Piauí. Acho que é o primeiro livro que vejo sendo passado lá, naquelas bandas!!
    Capa extremamente linda..mas também sou como você, não curto muito isso de misturar culturas. Deixa o que é lá de fora, lá fora!
    Beijo

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  2. Vou te falar que nunquinha li uma historia de terror ou horror. Muito bom você esclarecer essa diferença, surge sempre uma duvida.
    Quanto ao livro, fiquei em dúvida se o leria. Talvez sim, pra da uma chance a esse tipo. Mas a historia em si não me chamou a atenção.
    Concordo super com você em relação aos livros nacionais. Alias, acho que a gente já americanizou tudo, infelizmente.
    Bom dia !

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  3. Olá, Lelê.
    Terra Amaldiçoada é um livro que me chama bastante a atenção. A premissa é muito boa e esse terror, com pitadas de horror e suspense me fazem querer ler a obra. Outro ponto positivo é ser ambientado no Brasil. Amo quando os enredos são contados em nossas terras.
    Excelente dica.

    Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de abril. Serão três vencedores!

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  4. Lelê, concordo com você livro nacional tem que ter a nossa cara
    o autor explora um bom tema, coloca próximo ao seu leitor, criando uma ambiente conhecido culturalmente e precisa por essa brasilidade também na hora de escrever
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  5. Oie!
    Particularmente, sou bem suspeita pra flar, pq eu sou doidinha pelo gênero Terror... Amei a sinopse, gostei mto como o autor coloca nós leitores á par d td o q acontece, os detalhes...td...
    Qro mto ler!
    Bjs!

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  6. Lê!
    Muito bom ver um escritor nacional retratar um pouco da vida do sertanejo nordestino e trazer assuntos atuais como sem-teto, ainda mais atrelado ao terror, deve ser bom.
    “Devemos aprender durante toda a vida, sem imaginar que a sabedoria vem com a velhice. ”(Platão)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista especial de aniversário em abril: com 6 livros 5 ganhadores, participem!

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  7. Já li o livro - bom. Também gostei da resenha. Complementando, vale dizer que o livro levanta várias reflexões políticas fundamentais para pensarmos grande parte do interior do Brasil, não apenas do nordeste. Fala, assim, da questão agrária, indígena, da condição da mulher, do agronegócio, dos fazendeiros tradicionais, da violência. O livro também traz questões interessantes sobre identidade e pertencimento (ou deslocamento) em relação à terra natal e à família de origem.

    Não conhecia essa distinção entre horror e terror.

    Não me incomodo com a escolha das aspas para os diálogos. Não precisa ser, necessariamente, uma americanização. Grandes editoras brasileiras, como a Cia das Letras, também publicam diálogos assim. Há também diálogos como os de Saramago, sem travessões nem aspas, que, fugindo do modelo mais tradicional, não negam em nada a origem portuguesa do autor.

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    Respostas
    1. 1º - Autor nacional deve sim escrever com nossa gramática. Sinto muito se você não aceita isso.
      2º - Você não citou autores nacionais na sua lista, portanto seus exemplos não são válidos pra mim.
      3º - Saramago usa de licença poética. O que não é o caso deste livro em questão.
      4º - Faça uma redação em um vestibular e troque o travessão por aspas e me conte a nota depois.
      5º - Várias editoras pedem para seus tradutores fazerem essa mudança na hora de traduzir. Infelizmente não são todas. Mas isso tem mudado sim.
      6º - O manuscrito deste livro jamais seria aceito por nenhuma editora nacional sem que isso fosse trocado. Os editores brasileiros ainda prezam pela língua. Com certeza você não deve conhecer muitos editores.

      Sinto muito se você não se incomoda. Deveria ler mais livros nacionais.

      Este livro não foi lançado por nenhuma grande editora. Ele é de publicação independente.

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  8. Lelê, eu sempre felicito autores nacionais que se empenham em publicar livros que fogem do lugar comum, mas a verdade é que ando muito em falta com eles. Agora, uma coisa que não entendo é um autor nacional trabalhe tanto para escrever e depois encha as páginas com personagens de nomes americanos...

    Mas um que entra na lista. Faz um bom tempo que não leio um terror :)

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