VELANDO
Sabe
quando sentimos uma vontade louca de correr? Sabe quando estamos em um lugar
cheio de gente e nos sentimos tão sozinhos que achamos que o ar não entra nos
pulmões? As vezes me sinto assim, as vezes, meu coração está tão apertado no
peito, que parece que alguém está o segurando com força, o impedindo de bater.
A
última vez que me senti assim, corri tanto e tão desesperadamente, que quando
me dei conta, havia 17 mesagens de texto no celular e mais 8 mensagens de voz
para ouvir. A verdade é que havia saído de um evento qualquer, com pessoas que
apenas queriam ouvir eu falar coisas quaisquer, sem me despedir eu saí, apenas
coloquei a minha bolsa no ombro e corri, corri como o Forrest Gump, sem olhar
para trás, sem prestar atenção na direção em que estava indo, sem me preocupar
com o tempo da corrida, ou a velocidade alcançada.
Parada
em uma esquina, ofegante, com o celular nas mãos, ele piscava notificações de
mensagens não lidas, não havia nada a minha volta, apenas muros altos e
brancos, do lado direito, pelo canto do olho, eu podia ver dois homens se
aproximando, escuros, altos, ombros curvados…
Já
fazia algum tempo que havia sido diagnosticada como esquizofrênica paranoide
depressiva. A esquizofrenia paranóica se desenvolve, na maioria dos casos, em
uma idade mais avançada do que os outros tipos, mas eu sou um caso raro de
precocidade. É o tipo de esquizofrenia mais comum e se caracteriza por
insistentes alucinações e/ou delírio, bem como alterações na fala e nas
emoções.
Claro
que minha doença me abre um leque infinito de fantasias aterrorizantes e as
vezes prazerosas, óbvio que a parte depressiva em mim pesa uma tonelada, mas e
é isso que me sufoca e aperta… tanto que quase dei cabo da dor quando saí
correndo do evento no sábado, correndo, faltou quase nada para morrer em algum
acidente provacado por mim, não pensei na verdade, mas agora olhando de longe,
talvez tenha pensado, é possível que eu tenha avaliado que eu não queria
atrapalhar a vida dos transeundes, em me matar em casa, bem isso eu nunca
faria, pois penso muito no trauma que deixaria nos meus pais quando eles me
encontrassem.
Mas
divagações a parte, fantasiando ou não na esquizofrenia, desejando ou não a
morte na minha depressão, eu não me sinto nem um pouco a vontade com a
aproximidade daqueles dois caras, vou correr, pensei. Ilusão, o que senti foi
uma mão peluda quebrando meu pescoço, caramba, o som do próprio pescoço sendo
quebrado é ensudercedor.
Dois
monstros peludos, corcundas, malcheirosos sairam do cemitério me abateram e
consumiram minha carne, literalmente me comeram e foram embora lambendo meu
sangue dos pelos, agora eu que queria tanto correr, estou parada, ao lado do
cemitério de muros altos e brancos, velando meu próprio corpo no escuro da
noite já alta, esperando ter meus restos encontrados.
Todos nós temos nossos próprios monstros peludos. Monstros que aparecem do nada, principalmente quando estamos mais sozinhos do que nunca e consomem nossa carne sem piedade.
ResponderExcluirUm tapa na cara.
Adorei!
Beijo
Uaaal que conto!
ResponderExcluirÁ noite e sozinhos é que surgem os piores monstros internos em nós msm...
Ameeeei o conto de hoje!
Bjs!!
Adorei o conto e eminente fiquei muito Afinal Antigamente eu morri de medo do anoitecer pois achava que sempre haveria um monstro atrás de mim quando crescia descobri que para eles na importavam se o dia estava claro não :D
ResponderExcluirRenata!
ResponderExcluirUauuuuu!
Aterrador!
Fantasia e doença, mistura para um bom conto, parabéns!
“Jamais sofra antecipadamente. Pense positivo. Acredite nos seus sonhos. Nunca desista de lutar. A vida é generosa para aqueles que acreditam nela.” (Vitoria Cirilo)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA MARÇO: 3 livros + vários kits, 5 ganhadores, participem!
BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!
Os piores monstros aparecem de noite...........ADOREII.
ResponderExcluirSerio mano tu tem muita criatividade. Adoro esses teus contos