Tô Pensando em Contos... Não Há Inocentes

— Aqui é Bolsonaro 2018!!

— Mas amigo, você não está vendo o que está acontecendo?

— Tudo que está acontecendo é culpa do Lula e sua corja de bandidos do PT. Se não fossem eles nada disso teria acontecido.

— Cara, você está maluco.

— Maluco está você. Aquelazinha só morreu porque se meteu com bandido. Se tivesse ficado na dela e feito seu serviço direito, nada teria acontecido.

— Não é bem assim, não...

A discussão daqueles dois na mesa do bar estava me tirando do sério, mas jurei pra minha mulher que não me meteria em mais nenhuma confusão. Ainda bem que eles nem se lembram de quem sou. E não importa, não sou mais. Fui um político, hoje quero distância de tudo isso.

Até bem pouco tempo atrás eu queria ser um político reconhecido pelo povo. Queria que admirassem meu trabalho. Hoje só quero que não se lembrem mais de mim. Desde que ameaçaram minha mulher e minha filha que fui obrigado a abandonar tudo que sempre sonhei. Triste, mas precisei escolher entre um ideal e a vida de quem eu mais amo. Foi difícil, confesso; mas nunca iria me perdoar se acontecesse algo com Isadora, minha filha e muito menos com Isabel, minha linda e paciente esposa, que já aguentou demais dos desmandos da política da qual trabalhei por tanto tempo.

E o que eu tenho hoje?

Nada. Moro numa casinha simples, não tenho um carro, só tenho aquelas duas mulheres e essa cerveja que estou bebendo sozinho.

— Mas cara!! PRESTA ATENÇÃO NO QUE VOCÊ ESTÁ DIZENDO!! – um dos “amigos” bate na mesa derrubando um copo.

Olho para o balcão pra ver se o dono do bar está de olho naqueles dois, mas ele não está lá.

Nesse momento quatro homens entram no pequeno bar e param alinhados como uma tropa. Os dois amigos param de falar e ficam olhando sem entender nada do que está acontecendo.

Dois pensamentos surgem na minha mente; “Que bom que o dono do bar não está agora”, “será que foi ele que avisou que estou aqui?”. Nunca vou saber.

Os quatro homens começam a atirar para todos os lados. Os amigos que discutiam são os primeiros a cair. Naquele momento não importava se eram de esquerda ou direita, eles estavam no centro de uma briga maior que a deles. Eles poderiam dizer quem eram os atiradores num interrogatório, e não era isso que aqueles quatro homens queriam.

Eu fui atingido logo depois. Foram vários tiros. Meu sangue ficou espalhado pelo piso sujo do bar. Só espero que Isabel saiba o que fazer e não grite, não faça nada. Só cuide de Isadora e fique longe de tudo isso.

Em memória ao taxista que estava trabalhando e levando a vereadora pra casa. Não importa em quem ele iria votar. Ele estava trabalhando. Jamais poderá denunciar ninguém, não falará a “Verdade” em nenhuma “Comissão”.

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