DIÁRIO
23/11/2017
Minha nova casa é aconchegante, o que é uma forma otimista
de dizer que é pequena demais para o meu gosto. Todo esse ar fresco e luz do
sol são incômodos também, mas nada é pior do que a falta que eu sinto do cheiro
de enxofre.
24/11/2017
Minha colega de quarto (bom, eu digo “colega de quarto”, mas
ela insiste que é a dona do lugar...) é uma garotinha. Ela não parece mais tão
feliz com a ideia de ter-me por perto, mas o que a pirralha pode fazer?
25/11/2017
Vi o primo na televisão mais cedo. Esse é esperto. Resolveu
dividir apartamento com um político, e agora ninguém sabe dizer quem é quem.
Uma pena aquela obstrução urológica. Vou ver se Vovó pode mandar uma canja de
shoggoth pra ele, com um bilhete de “estimo pioras”.
26/11/2017
Fomos à igreja.
Eu estava meio apreensivo no começo, mas confesso que foi
bem divertido. Os mortais cantaram, leram algumas besteiras de um livrinho lá,
atacaram verbalmente pessoas que não estavam ali. Teve até um teatrinho. Um
mortal falastrão fingiu expulsar Belial do corpo de um ator mequetrefe. Pobre
Belial, uma velinha que só tem tempo de cuidar do Lago de Fogo hoje em dia.
No fim, eles leiloaram uma caneta abençoada para expulsar
demônios. Estou escrevendo esta entrada no diário com ela, mas a tinta já está
acabando.
27/11/2017
Amanda – esse é o nome da minha colega de quarto – parece
estar se acostumando à ideia de dividir seu corpo comigo. Não é tão incomum,
afinal de contas que alianças entre mortais e os da minha estirpe comecem com
uma possessão e acabem bem para ambas as partes. A gente vê os resultados toda
hora, seja numa carreira política ou num apresentador de TV narigudo.
A pequena Amanda não tem nenhuma dessas ambições ainda.
Claro. Ela só quer ajuda com um menino da escola. Por enquanto. Mortais não são
fofos nessa fase?
Então nós fechamos o nosso trato. Eu ajudo Amanda com o seu
“problema”, e ela faz algo por mim. Coisa pouca. Só precisa arranjar um jeito
de fazer outros mortais saberem de mim. Não precisa de muito. Acredito que uma
leitura rápida deste diário já seria o suficiente para escravizar a alma de
qualquer um.
Eita!rs
ResponderExcluirJuro que deu até para sentir o cheiro do enxofre em cada letra. Sai fora!
Mas confesso que ri na parte da "obstrução urinária"...também estimo pioras!rs
Beijo
Bruno arrasando nos contos!
ResponderExcluirEu qria uma caneta dessa viu... kkk
Adorei!
Bjs
BRUNO!
ResponderExcluirADOREI SUA CRIATIVIDADE E AS MENÇÕES DE um apresentador narigudo e Belial, tudo bem inteligente.
E dá para entender o sentido direitinho, parabéns!
Desejo um mês repleto de realizações!
“O que mais me interessa saber, não é se falhaste mas se soubeste aceitar o desaire.” (Abraham Lincoln)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA novembro 3 livros, 3 ganhadores, participem!
mais um conto bem escrito, bem elaborado e incrivelmente surpreendente
ResponderExcluirhttp://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
Olá Bruno,
ResponderExcluirMais um ótimo conto, li mas nada de alma aprisionada....kkkkk....estou fora.....kkkk.....show...abraço.
http://devoradordeletras.blogspot.com.br/