A BALADA NA ESQUINA DOS MUNDOS
Pedro disfarçou a
tristeza com euforia e já entrou na balada pulando e dançando enquanto seus
amigos riam da situação, mais por vergonha do que pela graça. A meta da noite
era só voltar para casa quando já não soubesse nem seu nome. Inclusive, ele
tinha esperanças de esquecer pra sempre quem ele era, não andava muito feliz
consigo mesmo.
Toda vez que os seus
problemas do mundo de fora atrapalhavam sua dança ritualística de
entorpecimento ele corria para o bar e tomava outro drink. Não havia comido o
dia todo, queria emagrecer. O álcool era todo o alimento que consumiria e a
única caloria que aceitaria no seu corpo, se desse sorte, passaria mal e nem
essa caloria seria retida nas suas entranhas.
Subiu no terceiro andar
do clube sem seus amigos, não queria lições de moral ou ter que ficar ouvindo
histórias com as quais não podia se identificar. Histórias de vencedores nas
quais ele nunca era o protagonista. “Vai chegar a sua hora”, “uma hora vai”,
diziam seus amigos, parentes, professores, velhas no ônibus que puxavam
assunto, bêbados falantes de rodoviárias, entre muitos outros. Ele já não sabia
se esses conselhos eram sobre o sucesso, ou sobre a morte.
Caminhou até o bar do
andar e resolveu que precisava de algo mais forte ainda. Pediu uma tequila. O
garçom serviu uma dose, colocou o limão e o sal sobre o balcão. Uma garota ao
lado de Pedro no balcão também havia pedido uma tequila, ela conversava com o
amigo sobre como nunca sabia a ordem para tomar a dose, o limão e o sal. Pedro
virou para responder a dúvida da menina e se viu do outro lado da menina também
se virando e respondendo. Era um estranho espelho sem vidro, vívido e cujo
reflexo não correspondia a sua realidade. O outro Pedro era mais magro, tinha
menos olheiras, um cabelo mais arrumado e suas roupas menos gastas.
Os dois se olharam, os
olhos arregalaram e imediatamente se viraram para o balcão para virar logo
aquela dose de tequila, coincidentemente os dois haviam pedido uma. A garota
bebeu sua dose de qualquer jeito e saiu rindo dos dois, dizendo que gêmeos de
quase 30 anos de idade não deveriam mais se vestir de maneiras iguais. Os dois
rapazes se aproximaram, ainda assustados. Cutucaram-se e viram que eram reais.
Logo já estavam sentados
conversando e rindo (de nervoso) daquela situação. Os dois eram o mesmo, pelo
menos até certo ponto da vida, tudo havia sido o mesmo, porém em algum ponto
divergiram, um deles se deu bem e o outro, o perdedor. Eles concordaram que
aquele deveria ser um ponto de encontro no multiverso. Os dois, fãs de ficção científica,
se convenceram dessa teoria sem relutar muito.
Conversavam e bebiam.
Pedro “Perdedor” queria muito saber o que tinham feito de diferente, mas não
conseguiam chegar num ponto que parecia ser o momento da curva, da esquina em
que foram para caminhos diferentes. Nesse ponto, de estômago vazio, Pedro
“Perdedor” já não conseguia mais segurar toda a bebida dentro dele, aliás já
não conseguia mais ficar de pé, nem manter os olhos abertos direito. Vomitou e
caiu para o lado. Não abria mais os olhos, mas sentiu quando o outro Pedro
começou a carregá-lo, além de tudo, também era mais forte que ele. Apagou.
Acordou no outro dia em
sua casa, e conseguiu as informações com os amigos que o tinham encontrado na
recepção da balada, sendo guardado pelos seguranças e que alguém havia pago a
conta para ele. “Que sortudo”, disseram. Pedro não conseguia esquecer o
acontecido e começou a frequentar a mesma balada toda semana, mas nunca
encontrava a sua versão vencedora. Queria conversar mais, queria aprender como
se tornar um vencedor.
Um mês depois, cansado,
resolveu que perguntaria ao garçom do bar, talvez ele conhecesse. O garçom
pareceu surpreso, disse que achava que ele sabia, já que pareciam ser gêmeos. O
outro Pedro tinha morrido, um mês antes, acidente de carro, estava sozinho e
dirigia bêbado. Uma tragédia.
Paulo que conto heim....
ResponderExcluirParabéns!
Agora afinal, eles eram gêmeos? Kkk
Curiosidade....
Adorei!
Bjs
Eu amo as quartas, definitivamente!!!
ResponderExcluirAs vezes, deixamos nosso lado Vencedor tão escondido dentro de nós, que deixamos só o Perdedor comandar..ou vice versa. Bom seria se todos nós, sem exceção, soubéssemos dosar os dois lados, sem nunca permitir que um prejudicasse o outro.
Adorei muito tudo isso!!!
Beijo
Paulo!
ResponderExcluirNossa! Que tragédia...
Até no multiverso as tragédias ecxistem, né?
Achei super hiper criativo e tem uma lição bem grande, porque afinal, mesmo sendo um perdedor, ele ainda estava vivo enquento o outro não...
“É prova de inteligência saber ocultar a nossa inteligência.” (François La Rochefoucauld)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA novembro 3 livros, 3 ganhadores, participem!
um texto surpreendente e muito reflexivo, somos um equilíbrio e precisamos aprender isso
ResponderExcluirhttp://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/