Tô Pensando em Contos... O ENCONTRO









O ENCONTRO







     Terceira mulher deixada escondida. Quanto tempo será que vão demorar pra encontrar dessa vez? 

     Espero que não demore muito. Ela merece um bom enterro.

     Salete. Uma das melhores que eu já encontrei. Demorei dias para falar com ela. Estive na porta da sua casa várias vezes esperando ela sair para trabalhar. Apenas quatro quarteirões. Uma caminhada rápida. Depois corria atrás dela na hora do almoço, que muitas vezes era na sua própria casa. E no final da tarde ia até sua porta esperando ela chegar.

     Ela tirava o sapato logo quando fechava a porta, pendurava a chave e ia para a cozinha pegar um copo de água. Algumas vezes sentava no sofá e ligava a televisão, outras, ia direto para o banheiro. Eu escutava o chuveiro ser ligado e ficava olhando escondido enquanto ela tomava banho. Não sei como nunca sentiu minha presença. Eu a sentia até quando estava dormindo.

     Sonhei tantas noites com Salete. Li todas suas correspondências. As faturas do cartão nunca tinha nada de extravagante . Ela era uma mulher como poucas. Não saía a noite, a não ser para cinema ou jantar com suas poucas amigas. Não gastava fortunas em roupas, sapatos ou jóias. Ela era perfeita.

     Vestia-se como uma mulher de verdade. Nada de barriga de fora ou decote. Salete era diferente de tudo que eu já havia visto nessa cidade.

     Depois de meses acompanhando seus passos e ações, já estava na hora de me declarar e tê-la nos braços. Eu não queria ter feito o que fiz, mas não teve jeito.

     Esperei ela chegar do trabalho, e quando ela entrou no banho resolvi fazer uma surpresa. Levei um lindo buquê de rosas vermelhas e fiquei sentado na sua cama esperando pacientemente ela sair toda cheirosa do banheiro.

     Mas quando ela saiu, soltou um grito estridente e jogou um livro que estava na mesinha do lado da cama na minha cabeça e trancou-se de novo no banheiro.

     Tentei fazê-la sair, chamei, pedi, implorei; mas ela estava irredutível. Tive que arrombar a porta. 
Salete estava no canto do Box em posição fetal; quando a peguei pelos ombros, Salete debateu-se e gritou ainda mais. Precisei silenciá-la. Fui obrigado a dar um murro no seu rosto. Tão lindo era aquele rosto. Ela ficou grogue, como se estivesse bêbada. Peguei-a no colo pela primeira vez. Como desejei este momento!

     Coloquei-a na cama e arranquei a toalha que ela ainda estava enrolada. Quando a vi ali, imóvel e nua, simplesmente enlouqueci. Acho que peguei pesado demais.

     Quando enfim terminei o que por tanto tempo desejei fazer com Salete, percebi que sua cabeça estava num ângulo nada normal.

     Sua cabeça pendia mole e sua língua inchada caía pra fora. Tinha sangue no lençol, nem sei de onde vinha.

     Por isso a deixei num lugar mais fácil dessa vez. Ela merecia ter um velório decente. Ela era tudo que eu imaginei, gostosa e quente, mesmo não se movimentando como eu sonhei; valeu a pena cada segundo.

     Agora estou morrendo de vontade de beber alguma coisa gelada, vou pro bar.

     Enquanto me refresco com essa cerveja gelada e me lembro dos momentos inesquecíveis com Salete percebo uma loira me encarando a duas mesas de distância. Ela me olha por trás de uma taça de alguma bebida que eu não sei definir qual é, mas a cor é vermelha. Não sou bom em definir esse tipo de bebida. Só tomo cerveja mesmo.

     Ela se levanta e vem até onde estou. Analiso seu andar, passos curtos e sem rebolar muito. Usa um vestido preto e carrega um casaco numa mão e uma bolsa na outra, tão pequena que não sei se cabe alguma coisa além de um batom e um documento.

     - Olá! Posso me sentar?

     Olho nos olhos dela. Estão fixos nos meus. Sua voz é baixa e um pouco rouca.

     - Claro. Aqui é um lugar público.

     - Não quero me sentar por ser um lugar público, se fosse por isso eu iria para qualquer outro lugar. Quero sua companhia.

     Opa.

     - Sente-se. Qual seu nome?

     - Samara. E o seu? – ela pergunta e toma mais um gole da bebida estranha que trouxe da sua mesa.

     - Luis. Que bebida é essa que você está tomando?

     - É um drink feito com Campari que o Barman fez pra mim, quer experimentar?

     - Gostaria, sim.

     Tomo um gole. A bebida é amarga demais para meu paladar. Desce queimando pela garganta, parece um ácido derretendo tudo por dentro. Ela ri enquanto faço uma careta.

     - Porra! O que é isso? Veneno?

     - Quase isso – ela fala isso e pisca pra mim.

     - Você não tem medo de falar com um estranho num bar qualquer? Eu poderia ser um assassino.

     - Eu também, e você não parece ter medo de mim.

     Que mulher é essa? Ela está me desafiando. Isso está me deixando muito excitado. Seu olhar é profundo e fixo em mim, isso me deixa louco. Minha vontade é agarrar seu pescoço com força, rasgar seu vestido, sua calcinha, seu rosto, rasgá-la toda.

     - O que está pensando, Luis?

     - Em você, Samara.

     - Isso é bom. Poderíamos ir embora daqui. Vamos?

     - Vamos, vou ao banheiro primeiro.

     Quando me levanto percebo que tudo está rodando, as luzes balançam na minha frente, Samara vem e pega no meu braço; o rosto dela fica um tanto distorcido na minha frente.

     Ela chama o garçom e dá algumas notas pra ele, está pagando as bebidas. Não consigo falar nada. Minha língua parece grossa e pesada dentro da minha boca. Olho para a mesa e percebo que sua taça, aquela que ela trouxe na mão está do jeito que deixei, do jeito que chegou. Fui o único a beber.

     Ela coloca meu braço em cima dos seus ombros e me leva para fora. Abre a porta de um carro estacionado em frente e me coloca no banco, fecha a porta e dá a volta no carro; abre a do motorista, entra e liga o carro.

     Samara não diz nada. Eu tento falar alguma coisa, qualquer coisa, mas é impossível. Logo as luzes da cidade ficam pra trás, estamos na estrada. O mesmo lugar onde deixei as duas primeiras mulheres que matei. Não estou entendendo nada.

     - Estamos quase chegando, Luis. Você terá uma noite inesquecível!

     Eu quero matá-la. Quero muito matá-la. Quero comer seu coração. Mulher horrível. Como pude ser tão tolo?

     - Prontinho. Vamos? – ela olha pra mim enquanto estica o braço direito para o banco de trás e tira uma mala de mão. Sai do carro e vem até a minha porta. Abre e me pega pelo braço.

     Não tenho força para não ir. Faço tudo que ela manda. Mulher desgraçada.

     Andamos até uma árvore no meio do nada. Longe da estrada. Não há nada aqui. Sei disso porque já estive aqui antes.

     - Sabe, conheci este lugar pela televisão, quando encontraram uma mulher morta aqui mesmo. Depois vim pra ver e algo em mim despertou. Procurei na internet imagens da falecida. Quando foi encontrada já estava em estado de decomposição – ela diz isso e tira a roupa como se fosse a coisa mais normal de se fazer no meio do mato. – Mesmo assim deu pra entender o que foi feito dela. Claro que nem tudo eu farei com você, mas farei do meu jeito. Quero ter essa sensação também.

     A desgraçada não sabe que fui eu que fiz aquilo. Como pode isso?

     Ela arranca a minha roupa e começa a me lamber e soltar uns gemidos. A vagabunda está excitada. Mesmo eu não conseguindo falar nada e nem enforcar a maldita, meu corpo cria vida e ela se anima com isso. Senta em cima de mim e galopa loucamente. Grita e urra como um animal.

     Enquanto isso a vejo arrastar a tal bolsa para perto, não consigo ver o que está tirando de dentro. Desgraçada.

     Só consigo ver a ponta de algo brilhando na sua mão. Ela ergue uma faca e enfia no meio do meu peito. A dor é lancinante. Samara grita. O sangue jorra do meu peito. Ela olha pra mim e vê o estrago que fez. Ela ri como uma louca que é.

     - Foi maravilhoso, Luis. Mas acho que você não gostou tanto quanto eu, não é mesmo? – ela coloca seu vestido por cima do sangue que mancha seu corpo. – Infelizmente vou ter que deixá-lo aqui, meu querido. Não se preocupe, alguém irá encontrá-lo logo, se você tiver sorte.

     Não vai dar tempo. Mal a vejo ir. Tudo se esvai de mim. Minhas forças se vão. Vou encontrar Salete. 


























6 comentários

  1. Tipo..dona Lelê?? A senhorita andou lendo Raphael Montes por quanto tempo??
    Caramba!!!
    Uma angústia do começo ao fim, o incerto, o certo..Mesmo já tendo uma vaga noção do que aconteceria(e aconteceu), o nó na garganta está aqui. A repulsa, a risada do "bem feito"..e a vontade que o conto não seja um conto, mas um livro inteiro.
    Amei, amei!!!
    Sem nem pestanejar, o melhor que li no blog até hoje, sem desmerecer ninguém!!!
    Parabéns!!!
    Beijo

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  2. Que conto!!!!
    Amei sim, e como diz o mundo da voltas não é mesmo? nunca imaginei esse final e ficava também pensando como acabaria tudo isso, realmente um conto excelente, parabéns!!!
    Abraços!!!

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  3. Me lembre de nunca pisar no seu calo, Srta. Alessandra. rsrs
    Tá cada vez mais cruel.
    Parabéns!

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  4. primeiro, pode morrer de amores por esse lay? que lindo Lê! e amei
    encantada
    seu conto como sempre muito bom! eu fiquei de queixo caido do começo ao fim! estou até agora digerindo a trama
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  5. LÊ!
    Recebeu o que deu...
    Se todos matadores psicopatas encontrassem uma dessa pela frente, tudo estaria elas por elas e pensariam duas vezes antes de comer seus atos impunes.
    Parabéns!
    “Não confunda jamais conhecimento com sabedoria. Um o ajuda a ganhar a vida; o outro a construir uma vida.” (Sandra Carey)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de MARÇO, livros + KIT DE PAPELARIA e 3 ganhadores, participem!

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  6. U-A-U, Lelê.
    Que agonia! A narração intensa me deixou apreensiva, de verdade.
    Na primeira parte, imaginei que fosse tratar apenas do Luis, suas ações e divagações, mas que surpresa ao entrar em cena, a Samara (sete dias... haha).

    E é estranho porque repudiamos a ação dele e ao mesmo tempo, temos aquele sentimento vergonhoso de satisfação. E pode colocar a Samara em mais contos que eu não ligo.

    Ótimo texto!

    Beijos ensanguentados. rs

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