Tô Pensando em Contos... UMA TARDE EM MADRI




UMA TARDE EM MADRI




     Heitor sempre odiou a beleza de Madri e seus estranhos e coloridos guarda-chuvas. Era um lugar que lhe dava medo, mesmo que ele não entendesse muito bem o motivo.

     Ele era amigável, inteligente e bebedor de uísque, com lábios carnudos e braços longos. Seus amigos o viam como uma pessoa tão fantástica quanto boba. Certa vez ele até salvou uma pomba machucada que caiu de uma árvore recém-podada. Essa era o tipo de homem que ele era.

     Naquela tarde, ele foi até a janela da sala e observou seus arredores entediantes. A chuva martelava os paralelepípedos da rua. Os guarda-chuvas corriam para todos os lados e sumiram para dentro de lojas e lares.

     Foi então que ele viu algo do outro lado da rua, ou melhor, alguém. Era a figura de Raquel, debaixo da chuva, com seu guarda-chuva preto. Ela era sempre preocupada, mas também esquecida, com lábios rubros e braços frágeis.

     Heitor engoliu seco. Ele não estava preparado para Raquel.

     Enquanto ele saiu de casa e Raquel se aproximava, ele conseguiu ver o cintilar silencioso dos olhos dela.

     Ela o encarou com toda a fúria de 9212 adoráveis filhotes de labrador. Ela disse, quase sussurrando, “Eu te odeio e eu quero amar.”

     Heitor deu um passo para trás. “Raquel, vamos nos casar”, ele respondeu.

     Eles olharam um para o outro com um sentimento de ansiedade, como dois jovens desajustados que acabaram de se conhecer, bebendo em uma festa de casamento de amigos não tão próximos, com um jazz tocando no fundo e dois casais mais velhos dançando fora do ritmo na pista de dança.
Heitor olhou fixamente para os lábios de Raquel. “Eu sinto o mesmo que você!”, revelou Heitor com um largo sorriso de felicidade.

     Raquel parecia furiosa, suas emoções floresciam em seu rosto sem qualquer pudor ou medo.

     Então Raquel entrou para apreciar uma dose de uísque.


















Felipe Amaral















10 comentários

  1. Olá!!
    Bem diferente esse conto de tantos que já li mas achei bem original como descreve todos os detalhes.
    Parabéns maravilhoso!!

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  2. Um conto bem diferente do que eu costumo ver, tem um gostinho de crônica e realidade muito gostoso. As vezes eu gostaria de ler e escrever mais coisas assim.
    Um abraço!

    http://paragrafosetravessoes.blogspot.com.br/

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  3. Muito bom esse conto.
    É pequeno e mesmo assim consegue até passar um sentimento ao ler. Adorei! ^^

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  4. Felipe!
    O velho e bom uísque para apagar as dores do coração e da alma...
    “A missão suprema do homem é saber o que precisa para ser homem.” (Immanuel Kant)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de NOVEMBRO com 3 livros + BRINDES e 3 ganhadores, participem!

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  5. eu adorei o conto, amei trazer como pano de fundo uma cidade que adoro como Madri
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  6. Nada como uma bebida forte pra se esquecer o que nos faz sofrer...
    Adorei! Parabéns Felipe!

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  7. Na realidade, é uma pequena crônica sobre o amor. Essa relação tão turbulenta, de raiva, desejo, fuga...Mas que no fundo, sempre termina ou começa como o gosto do uísque derretendo e dando repulsa na língua!!
    Adorei!!!
    Beijo

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  8. Esse conto me tirou arrepios, pequeno e simples, porem bem detalhado! Adorei!

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  9. Oi, Felipe!!
    Parabéns!! É um conto curto mais cheio de significados!! Adorei!!
    Beijoss

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  10. Olá, Felipe.
    Um conto do jeito que eu gosto, com gosto de simples, de cotidiano, mas que ainda assim transmite intensidade.
    Excelente postagem!

    Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de novembro. Serão dois vencedores, dividindo 3 livros.

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