ROTEIRO ROTINEIRO
Amanheceu e o despertador antigo toca acordando Ana. E mais uma manhã, o seu desânimo a prendeu na cama. Seu olhar cansado passou do teto para o criado mudo, sem muita vontade. Aquele despertador antigo que já havia despertado seus avós, seus pais, agora a despertava e Ana como todos os dias de sua vida, o desligava.
Seu cansaço é avassalador, mas o mecanismo de sua rotina é ainda maior. Não há porque deixar de se render ao que já lhe é comum e confortável.
Na cozinha cada coisa em seu lugar planejado para ser alcançado no momento certo do seu próprio roteiro. Cafeteira na pia e o café no armário logo acima, tudo preparado com economia de movimentos e com o tempo cronometrado, numa lógica sistemica que não exige correria, apenas ritmo.
Enquanto o café é preparado pela máquina criada pelo homem, a máquina criada pela natureza, Ana entra no banheiro, o ritual nunca deve ser mudado. O banho é realizado de forma detalhada, sempre naquele mesmo roteiro rotineiro. Cabelos, corpo, roupa, previamente separada atras da porta.
No quarto, a cama é arrumada, cada traveseiro em seu lugar, as almofadas com destino certo no meio. Aquele despertador ainda sonoriza o seu tic-tac, como o coração no peito de Ana. Um, cumpre sua função de marcar o tempo, o outro cumpre sua função de bombear sangue para o resto do corpo.
O corpo, a máquina sistemica, automata que cumpre seu papel de manter Ana dentro de seu roteiro rotineiro de sua vida ritmada.
Antes mesmo do primeiro apito, Ana com sua caneca florida, já está de frente com a cafeteira.
Apenas um leve tremor em seu rosto, revela o quanto está quente aquele café.
A caneca é lavada e colocada no escorredor, onde nequele momento a luz do sol revela que as flores da caneca têm cor de desânimo.
No seu roteiro rotineiro, Ana sai para o trabalho, o despertador ainda em seu tic-tac no quarto, o coração no mesmo ritmo bate tum-tum em seu peito e para não fugir ao compaço, o seu salto alto bate clacs-clacs rumo a rua.
Tic-tac…
Tum-tum…
Clacs-clacs…
O dia manteve-se no seu roteiro rotineiro.
Tic-tac…
Tum-tum…
Clacs-clacs…
A noite veio para finalizar o roteiro rotireiro do dia.
Ana ainda está com o mesmo cansaço e o mesmo desânimo, nem mais e nem menos, simplesmente igual, pois segue seu roteiro rotineiro, nada é alterado.
Na caneca florida um pouco de água e comprimidos, um banho quente e Ana deita-se na cama, mas não esquece de cumprir seu último ato de seu roteiro rotineiro, programar seu despertador para o dia seguinte.
Amanheceu e o despertador antigo desperta, mas não acorda Ana. Não desta vez.
Tic-tac…
….
Tic-tac…
….
Cada quarta-feira é uma surpresa diferente.
ResponderExcluirReféns do tempo, reféns de nosso cotidiano, reféns do que programamos a nós mesmos, sem permitir que nunca nada saia do lugar, nadinha.
Onde iremos parar? Será que de fato algum dia, acordaremos sem que um despertador nos mande?
Será que teremos um amanhã?
Adorei!
Beijo
Renata me vi aí no seu conto heim...
ResponderExcluirEssa rotina...
Mtas pessoas passam pela msm situação de Ana e creio que mtas delas já se apegou ao seu "roteiro rotineiro"....
Amei!
Bjs!
Renata!
ResponderExcluirSempre vejo nossas atividades rotineiras como rituais que seguimos iariamente sem nos darmos conta...
Sou igual a Ana...#SQN...kkkk Quando vejo que a rotina está dominando, acabo fazendo tudo diferente, só para mudar um pouco e quem sabe deixar o despertador me acordar uma vez mais na manha seguinte...
“O primeiro passo para a cura é saber qual é a doença.” (Provérbio Latino)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE SETEMBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
é aquela velha questão dos hábitos mecânicos, da falta de leveza, de um pouco de caos que todos nós precisamos
ResponderExcluirhttp://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
Oi, Renata!!
ResponderExcluirAdoro as quartas pois sei que vai ter conto aqui no blog! Gostei muito desse contos que fala um pouco das coisas rotineiras da nossa vida.
Bjoss