PYAAR
Quando um homem
de pele oliva e um narigão comprido apareceu à porta de casa, minha mãe
esbugalhou os olhos e gaguejou.
Há um tempo perdi
a vó Vanda. Ela morreu numa viagem de navio à Índia; coisa de louco, minha mãe
dizia - era só pegar um avião e pronto. Mas Vanda se negava a voar. Ela nunca
chegou ao destino, morreu de pneumonia no oceano faltando uma semana para chegar.
O que é bastante poético, ou irônico, pois meu avô era marinheiro.
Sei que ela não
era uma heroína, mas aprendi algo sobre ancestralidade. Tenho pena de saber que
sua memória vai morrer aos poucos. Gradualmente Vanda vai significar pouco, e
então nada para nossa família. Assim como eu.
Achava que ela já
estava se perdendo quando, mesmo morta, algo dela chegou em forma de homem na
porta de casa. Quando o indiano entrou em casa, lembrei daquela noite.
Certa vez minha
avó, caindo de sono, me deixou assistindo qualquer bobagem na sala e se
recolheu. Antes de apagar a luz do quarto para deitar, ela me lançou um olhar
carinhoso e disse embargado:
— Você tem os olhos do seu avô.
Achei graça do
engano. Meu avô tinha os olhos azuis como o mar em que tanto viveu. Eu tenho
olhos de jabuticaba - redondos e escuros de tudo.
O indiano me
encarou com seus olhos idênticos aos meus.
Morremos de fato ou deixamos algo de nós em outras pessoas? Acredito que seja uma pergunta sem resposta.
ResponderExcluirReencarnação...sei lá se é realmente isso que o conto quis mostrar. Mas foi o que entendi.
Talvez não morramos inteiramente,mas parte de nós, sempre ficará em alguém,mesmo que este alguém não se dê conta disso..ou se dê!
beijo
Oi, Allana!!
ResponderExcluirGostei muito do conto, mesmo ele sendo bem curtinho deu para perceber a profundidade dele!!
Bjoss
Allana!
ResponderExcluirAlém da história bem escrita e que fala sobre a genética... gostei de ver o conto escrito em primeira pessoa, dá mais proximidade em relação aos sentimentos da personagem.
Parabéns!
"...Aceite com sabedoria o fato de que o caminho está cheio de contradições. Há momentos de alegria e desespero, confiança e falta de fé, mas vale a pena seguir adiante..."(Paulo Coelho)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE AGOSTO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
uma história bem emotiva, principalmente no trecho que fala sobre como somos efêmeros nessa vida
ResponderExcluirhttp://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
Morremos com os nossos segredos que não são esquecidos juntos com a gente. Adorei a profundidade do conto , Alana. Tão curto, mas que tem uma história bem profunda.
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