A Voz de Deus
http://www.basilicasantoantonio.com.br/basilica-virtual/
Diana entrou apressada pela enorme
porta de madeira. Suas roupas estavam tão molhadas que pensou que poderia
tirá-las, colocá-las num rodo e limpar o chão. Enquanto ela torcia o cabelo na
porta riu com a ideia, uma igreja não era o lugar ideal para ficar pelada.
Não lembrava a
última vez que tinha ido à uma igreja, ainda mais nessa especificamente, ela
tinha lido que o prédio tinha sido promovido a basílica ou qualquer coisa do
tipo. Sabia que tinha a ver com a igreja ser grande, bonita e cheia de pinturas
pelas paredes, tetos e vitrais. Afinal, a Igreja devia ser igual a tudo nessa
vida, definida pelo senso estético.
Enquanto
caminhava pelos corredores, adentrando o cômodo cheio de bancos, sombras e
silêncio, avistou algumas poucas pessoas que estavam por alí numa tarde de
terça-feira. Dois homens no alto de um andaime, reformando algo próximo ao
teto. Três senhoras ajoelhadas rezando, provavelmente pagando promessas ou
apenas querendo provar que são mais católicas que as outras senhoras da região.
Íam até embaixo de chuva. Diana não estava lá para rezar, estava lá somente
para se proteger da chuva, não tinha levado guarda-chuva. Ela quase se sentia
culpada, mas igrejas eram pra isso não? Para abrigar as almas que precisavam.
Ela definitivamente precisava de abrigo.
Caminhou mais
um pouco e encontrou uma pintura que dizia “Sermão aos peixes”, ela não sabia
se ria ou xingava, não podia acreditar que até com os peixes Deus falava e com
ela não. Já não era católica há muito tempo, em especial porque Deus nunca
falava com ela, e ele falava até com peixes, sabia ter tomado a decisão certa
em largar tudo isso. Foi até a frente do altar. Não fez o sinal da cruz.
Ao lado do
altar havia uma vela, dessas bem grandes que ficam ali queimando por um ano
inteiro. A garota riu imaginando o que as senhoras fariam se ela apagasse a
vela de repente. Olhou para o centro do altar. Será que era alí que deus se
sentava? Ela pensou. Em meio a todos os
anjos e arcanjos? Quantos anjos existiam? Só se lembrava do nome de um, Metatron,
A Voz de Deus. Como seria a voz de Deus?
Diana imaginou
uma voz grossa e poderosa e logo se repreendeu. Que machismo era esse dela? A
voz poderia ser fina, poderia ser de uma mulher, mulheres também são poderosas.
A voz podia ser inclusive dela. Ela era a voz de Deus. Ela era Metatron.
Abriu suas
asas e voou para o alto da basílica. Então, falou. Falou seus desejos, suas
vontades, seus delírios. Os desejos, vontades e delírios de Deus. Os homens nos
andaimes cambalearam, seus tímpanos estouraram e eles caíram para a morte. As
senhoras tentaram cobrir suas orelhas, mas a voz era mais forte e suas cabeças
explodiram. Diana pousou levemente no chão agora vermelho e melado da igreja,
recolheu suas asas e saiu caminhando. Já não chovia mais.
Caramba...eu sabia que vinha bomba, mas não imaginei um desfecho assim..
ResponderExcluirIncrível!!
Eu amo as quartas aqui no blog, sempre com uma surpresa diferente. Sempre um conto de arrepiar, emocionar ou entreter.
Que a voz de Deus, seja a voz de Deus, somente!!
Beijo
Eu vou te falar que fiquei um pouco confusa com esse final. Não espera isso, definitivamente.
ResponderExcluirMas gostei do conto, mostra uma pessoa totalmente sem fé e que esqueceu de Deus a algum tempo. O que é uma pena.
eu com certeza não esperava esse final!!! totalmente surpreendente
ResponderExcluirhttp://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
Paulo!
ResponderExcluirO melhor dos contos para mim é justamente a imprevisibilidade do que se passa pela cabeça do autor e a surpresa do final...
Parabéns!
“Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência.” (Santo Agostinho)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
O bom de ler um conto é isso: um final surpreendente e dramático. A gente começa a ler e os olhos flutuam entre as palavras, devorando rapidamente, para que logo se possa encontrar o final e...se surpreender! Ótimo!Abraços.
ResponderExcluirAdoro os contos do Paulo porque eles nunca são o que parecem ser. O final é sempre abrupto, diferenciado e filosófico. As metáforas nos colocam para pensar.
ResponderExcluirSimplesmente, amei o conto.
Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de junho. Serão quatro livros e dois vencedores!
Good guy! Well done!
ResponderExcluirQue final esplendido! Não imaginava de maneira nenhuma que ela o anjo! Maravilhoso, você escreve muito bem Paulo! Beijos! <3
ResponderExcluirLivros, Amor e Mais
Ual! Esse final me surpreendeu!
ResponderExcluirNão imaginava ela, anjo, tão poderoso qto uma mulher....
Ual!
Amei!
Bjs!
Oi!
ResponderExcluirGostei muito desse conto, realmente ele me surpreendeu e o final foi algo que não esperava o que adorei, pois acaba surpreendo o leitor !!