Tô Pensando em contos... MIAU



MIAU






     Não me lembro como morri, mas sei que estou morta porque nunca saio dessa igreja velha, nunca durmo, nunca tenho fome; vejo todo mundo, mas ninguém me vê.

     Minto, só Adolfo me vê, um gato tão branco que parece um fantasma, mas aqui o fantasma sou eu.

     Sexta a noite e estou aqui no escuro olhando para esse monte de estátuas de santos enquanto Adolfo olha pra mim e mia pedindo alguma coisa. Deve estar com fome, mas não posso dar nada pra ele. Não consigo segurar nada, e mesmo que conseguisse, ia dar o quê? Hóstia? Água benta?

     De repente escuto um barulho de vidro quebrando, um homem entra na igreja pela pequena janela lateral.

     Com uma pequena lanterna, ele se dirige rapidamente para os fundos, onde o padre fica para rezar as missas enquanto a maioria dos fiéis tira um cochilo.

     Aliás, onde ele está que não ouviu a janela quebrando? Deve ter se afogado no vinho da santa ceia.

     - E agora Adolfo? O que vamos fazer amigo?

     - Miaaaaaauuuu. - disse ele e correu atrás do estranho.

     Levantei e fui atrás dos dois. O homem olhou para um monte de pequenas estátuas, abriu uma sacola e agarrou um dos objetos que estavam ali. Sei que era importante porque o padre sempre olhava para aquilo e fazia uma oração. Imaginei que fosse valioso. 

     Adolfo olhava pra mim desesperado, ele realmente estava entendendo o que acontecia e, assim como eu, não sabia o que fazer. 

     Foi então que olhei para àquelas estátuas e pedi ajuda. Nem que fosse por uma só vez, que me fizessem aparecer para salvar aquele artefato precioso.

     E um milagre aconteceu.

     Eu estava ao lado do homem enquanto ele colocava o objeto sagrado na sacola. Por alguns segundos minha forma física apareceu ao lado dele. 

     O homem começou a tremer e devagar foi se virando em minha direção.

     Eu abri a boca para lhe dizer pra não fazer aquilo e colocar a pequena estátua no lugar, mas o que ele ouviu foi:

     - MIAAAAAAAAAUU.

     Sim, antes que eu conseguisse falar, Adolfo deu seu miado mais alto. Nunca tinha visto ele miar tão alto assim.

     O homem não aguentou e caiu ali durinho. Mortinho da  silva.

     Fiquei esperando sua alma aparecer para me fazer companhia; mas acho que ele não tinha, ou talvez tenho ido para outro lugar.

     - Que barulho foi esse?

     O padre disse enquanto tropeçava.

     - Oh! Meu Deus! Senhor, meu senhor. Está morto. Pobre homem. Que Deus cuide da sua alma.

     - Ih, padre. Esse aí não tinha isso não. - eu disse, mas ele não me ouviu.

     Ao lado da sacola do homem, Adolfo parecia confiante. 

     - Foi você que assustou esse filho de Deus? - foi então que o padre viu o artefato na beira da sacola - Você salvou a igreja de um assalto, gatinho? Um anjo o enviou, não foi? Vamos lá pra dentro. Vou ligar para a polícia e já dou uma recompensa pra você. Devo ter uma latinha de sardinha no armário.

     É. Adolfo virou herói. E eu continuo aqui. Mas até que agora estou mais feliz que antes!

























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9 comentários

  1. Que lindinho o conto, adorei, Adolfo é uma graça de gatinho, nd parecido com as gatos q conheço....
    Bjs

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  2. Adorei o conto!! Sou apaixonado por gatos e o Adolfo além de fofo agora é um herói!!
    Beijoss

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  3. Que fofo o conto, adorei!
    Adoro gatinhos e o Adolfo parece ser tão fofo *-*
    Conheci o blog há pouco tempo mas estou amando os contos!
    Bjos

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  4. Acho os contos tão originais *-* geralmente não sou grande fã de gatos, mas adorei o Adolfo rsrs bem diferente do que os gatos costumam ser.
    Bjuss

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  5. Eu amo vir aqui em dia de conto, um melhor que o outro!!!
    Adorei esse <3
    Quero um Adolfo pra mim. hahaha
    Beeeeijos!
    https://livrosamoremais.blogspot.com.br/

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  6. Lê!
    Gatos tem mesmo o poder de assustar, pois a percepção deles é bem aguçada.
    Adorei que o assalto não foi completado, quem já viu roubar imagens de uma igreja?
    “Uma pergunta prudente é metade da sabedoria.” (Francis Bacon)
    Cheirinhos
    Rudy

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  7. que conto lindinho, eu adorei!
    fiquei imaginando a cena
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  8. Que bonitinho! Adorei. Acho gatos muito fofinhos, mas quando querem sabem ser assustadores...

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  9. Ah, Adolfo!rs
    E que milagre assim, repentinamente!
    Acho que tudo tem sua hora de acontecer, seja a morte, seja a vida, seja o ser invisível.
    Adorei o conto(aliás, quase nunca se lê um conto fofo por aqui..rs pessoal é meio sanguinário(adoro))
    Beijo

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