Tô Pensando em contos... Radionovela



RADIONOVELA




     Outro dia eu estava vendo T.V. durante a tarde quando ouvi a vizinha gritando com a filha dela. Dos muitos tipos de mães que existem por aí, as que gritam muito nunca foram as minhas favoritas, mas não posso culpá-la, eu definitivamente não teria tanta paciência.

     A situação era a seguinte, a filha brincou a tarde toda, e chegou a hora do banho, como toda boa criança, a menina não queria parar de brincar e logo começou a questionar a mãe, “mas por que tomar banho, mãe?”. A mãe deu uma surtada e começou a gritar, “todo dia a mesma coisa, todo dia! Por quê? Por quê? A gente toma banho pra ficar limpo ué!”. Eu ri muito, por dois motivos, um que entendi a mãe surtada, já que pelo jeito a menina fazia isso todos os dias, o outro porque a resposta que a mãe deu foi perfeita, tomamos banho para ficar limpos, sem tirar nem pôr. Super racional.

     Desde então eu fico de ouvido na gritaria da casa ao lado, não sou do tipo fofoqueiro, nem conheço a vizinhança para poder contar para alguém, mas virou tipo um seriado particular, ou tipo uma radionovela, que eu nunca sei quando vai começar, e acontece em pedaços bem pequenos que eu vou juntando e tecendo a trama. Uma cena que se repete várias vezes, e dessa vez eu não entendo a lógica da mãe, é a gritaria sobre a menina ir no portão, toda vez que a menina vai no portão da casa, a mãe grita: Já falei para não ir no portão! Eu não entendo muito bem o problema do portão, e nem porque a menina gosta tanto do portão, e entendo menos ainda qual o limite desse portão. A menina tem autorização pra brincar na garagem, mas tem que ficar a mais de um metro do portão? Não sei.

     Acredito que seja a preocupação de uma mãe solteira que trabalha em casa, ela deve ter um limite de visão da filha brincando enquanto trabalha. Já disse que ela é divorciada? Na verdade eu nem tenho certeza, mas nunca ouvi um marido por alí, nem um pai, então na minha trama ela é divorciada! Aliás, nunca foi casada, mas está namorando, já que um dia desses ouvi a menina dizer, “que colar bonito esse, mãe! De quem você ganhou?” e a mãe respondeu prontamente, “comprei, menina enxerida”, senti um risinho na voz da mãe, ela claramente ganhou de alguém, a menina só não sabe ainda. Fiquei feliz por ela.

     Fiquei feliz porque às vezes nós esquecemos que as mães também são gente, elas também tem vontades, gostos, sonhos e querem se divertir, especialmente uma mãe que deve ter a minha idade. 

     Quando a filha não está no fim de semana (e eu imagino que ela está com o pai),a mãe também chama os amigos para beber em casa, todos felizes. Fico feliz que ela se divirta, o tom de voz dela até muda, nem grita tanto, parece leve, seja humana. Fico feliz mesmo, adoro minha radionovela, mas é bem difícil aguentar esse funk que ela ouve até às quatro da manhã todo fim de semana que a menina não está em casa. 




















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9 comentários

  1. Que lindo Paulo, amei!
    Bela homenagem á todas as mamães!
    Parabéns!
    Bjs!

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  2. Puxa!!!Que coisa mais linda de se ler e imaginar!Ou de saber que todos nós já passamos por isso ou que no mínimo fomos os atores de nossa própria novela particular! Minha mãe gritava pacas...rs e nos batia também..rs Tá, eu e minha irmã merecíamos muitas vezes, mas outras não. Hoje entendo o cansaço que ela tinha. E hoje a entendo bem!
    Amei, amei!!!
    Parabéns!!!!

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  3. Puxa!!!Que coisa mais linda de se ler e imaginar!Ou de saber que todos nós já passamos por isso ou que no mínimo fomos os atores de nossa própria novela particular! Minha mãe gritava pacas...rs e nos batia também..rs Tá, eu e minha irmã merecíamos muitas vezes, mas outras não. Hoje entendo o cansaço que ela tinha. E hoje a entendo bem!
    Amei, amei!!!
    Parabéns!!!!

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  4. Que lindo!!!
    Mães merecem um momento só delas e mais ainda serem felizes.
    Também brincava muito mas sempre fui uma criança doida para chegar em casa e ficar limpinha.
    Muito lindo esse conto parabéns!!!

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  5. Paulo!
    Acompanho várias dessas radionovelas onde moro.
    Hoje mesmo acordei com a marreta derrubando uma parece, o maior barulho contante e laro, a dor de cabeça foi na hora...
    Desejo um mês abençoado!
    “Muitas palavras não indicam necessariamente muita sabedoria.” (Tales de Mileto)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP COMENTARISTA MAIO 3 livros, 3 ganhadores, participem!

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  6. Oi, Paulo.
    Adorei o seu texto e admiro muito essa sua paciência!! Rs...
    Eu já tinha dado um fim nessa novela rapidinho!! Rs...
    Beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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  7. Adorei o texto, uma linda homenagem para as mamães. Minha mãe também gritava muito e eu não entendia o motivo para tanto stress. Hoje eu compreendo e a admiro ainda mais!!
    Beijos!!

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  8. bem corriqueiro e do nosso cotidiano moderno, muito bom seu texto, cauda empatia
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  9. Nossa, adorei demais ;)
    Descobri o blog agora, e já to amando demais *-*
    Adorei a homenagem!

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