QUADRILHA
João chegava todos os dias na faculdade
com seu skate. Um ato reprovado pelos guardinhas da faculdade, não porque ele
causava acidentes, afinal ele andava muito bem, mas era só mais uma regra boba
da direção. Mas, naquele dia foi diferente, ele quase caiu e o motivo tinha
nome completo e cpf: Teresa.
Ela
riu quando viu o garoto quase capotar na rampa de entrada. Ele ficou triste.
Na sala de aula, o grupo de amigos sentava
junto, no meio, exceto Teresa, que sempre ocupava a primeira carteira na aula
do Raimundo, seu crush, o professor de Literatura Brasileira.
Raimundo adorava a atenção das alunas (e
dos alunos), mas, apesar de Teresa não piscar um olho durante a aula, Raimundo
sempre sorria mais para Maria e eventualmente deixava bilhetes com poemas na
mesa da aluna.
Maria ficava vermelha com a situação e
sempre corria para esconder o poema no seu estojo. No intervalo, ela adorava
ler em voz alta para as amigas o texto do professor, mas sempre em um tom de
deboche e isso não mudava mesmo que ele estivesse por perto para ouvir, mesmo
que isso o deixasse triste.
Joaquim sempre chegava perto do horário do
intervalo e já chegava tascando um beijo na sua namorada. Lili dava um sorriso
amarelo para o namorado, mas quando ninguém estava vendo, virava os olhos. Ao
seu lado, Maria mudava a fisionomia e se entristecia em silêncio.
…
Um dia, Joaquim procurava Lili pela
faculdade. Não estava na sala, não estava no pátio, nem com os amigos. Ele
desconfiava do pior e em um corredor vazio acabou com sua desconfiança. Lili
estava beijando alguém.
Joaquim sofreu duas vezes. Primeiro seu
coração, depois seu punho ao encontrar com a parede. O barulho foi tão forte
que interrompeu a diversão de sua namorada. Ela nada fez, só ficou olhando
enquanto ele saía correndo daquele corredor não mais vazio.
Joaquim chorou. Sentado no box de um
banheiro masculino do bloco 4, Joaquim abriu sua mochila e acabou com seu
sofrimento de uma vez por todas com um cano de metal apontado para sua cabeça.
A notícia chocou a escola. Os casais,
vestidos de pretos, se consolavam pelos cantos. Exceto Maria. Maria não tinha
mais ninguém para se consolar. Joaquim havia se matado e Raimundo sofrera um
acidente de carro alguns dias antes.
Depois das férias, Teresa abandonou a
faculdade, mas não abandonou seu ritual diário de levar flores no túmulo de
Raimundo. Vestida de preto e crucifixo na mão, ela reza pela alma do seu amado,
que nunca a amou.
João resolveu correr atrás dos seus
sonhos. Juntou dinheiro, pegou seu skate e foi tentar a sorte nos Estados
Unidos. Seus vídeos no Youtube o levariam longe. Mais longe do que ele havia
sonhado. Mas isso é outra história.
Enquanto isso, Lili, que nunca havia amado
ninguém, pela primeira vez sorria todos os dias. Todos os dias ela podia tocar
os lábios de J. Pinto Fernandes, a nova professora de Literatura Brasileira,
que ainda não tinha aparecido na história.
Pra falar a verdade, Juliana Pinto
Fernandes já tinha aparecido na história, naquele fatídico corredor vazio.
Baseado no poema de
Carlos Drummond de Andrade
dramático, com uma boa dose de realidade, eu gostei bastante... A trama é intrigante e mostra os permeios da vida!
ResponderExcluirhttp://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
De arrepiar o corpo inteiro!!!
ResponderExcluirJoão amava Maria que amava José!!!
Caramba!! Não poderia ter tido inspiração melhor e o conto saiu bom demais. Drama, romance, vida..tudo junto e misturado, como é a história de quem ama e não é amado!
Amei.
Beijo
Uma mistura perfeita Felipe!!
ResponderExcluirArrasou!
Bjs
Interessante e diferente, muito bom!!!
ResponderExcluirAté mais!!!
Eita Felipe!
ResponderExcluirFulano que amava sicrana, que amava Beltrano, que amava cicraninha e por aí vai...
Destinos trágicos e outros promissores.
Baseado em Drummond, só poderia sair boa coisa, né?
Parabéns!
“ O amor é a sabedoria dos loucos e a loucura dos sábios.” (Samuel Johnson)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
TOP COMENTARISTA ABRIL especial de aniversário, serão 6 ganhadores, não fique de fora!
Eu tô aqui rindo com essa sacada de esmiuçar as histórias de Quadrilha.
ResponderExcluirFazer J.Pinto Fernandes ser mulher foi genial. E quem é que sabe, não é mesmo?
Adorei!
Afinal de contas, Lili não amava ninguém. Pq será?
ExcluirOi.
ResponderExcluirMuito bem construído e muito interessante! Ótimo mesmo, parabéns.
Contos sempre são muito bem vindos.
Abraços.