Ao Mestre Com Carinho
A T.V. recém-ligada passava a
introdução do Jornal da Globo enquanto eu
preparava um sanduíche de presunto. Fui até a sala e me joguei no buraco
negro do sofá, de onde sabia que só saíria pra ir para a cama. Mordisquei o sanduíche, desanimado, três dias repetindo
o mesmo prato deixa algo que já é sem graça, mil vezes pior. A repetição
acontecia por dois motivos: a falta de
entusiasmo para cozinhar de quem trabalha até as dez e meia da noite e o
salário de professor de inglês, que infelizmente não era em dólar.
O
jornal mostrava todas as boas notícias de sempre: crimes, doenças , guerras,
alta do dólar, novos impostos. Ouvi a repórter com tom de reprovação anunciar uma
notícia sobre o mercado de trabalho que mudava tudo, “Apenas 5% da população brasileira fala inglês.
Empresas acabam contratando funcionários menos qualificados por terem fluência na
língua inglesa”. CINCO PORCENTO! Tive um rompante de felicidade, não sabia desses
números, quer dizer que eu estava numa parcela muito seleta da população, diria
até: uma elite.
Sabe o que isso significava? Os
sanduíches de presunto, chegar tarde da noite em casa, não sair de sexta a
noite e perder os churrascos de sábado por estar trabalhando, nunca mais! Eu
estava agora na minha estrada de tijolos amarelos, não sabia fazer muita coisa
nessa vida, mas sabia falar inglês e
isso era meu trunfo para ver o Mágico de Oz.”Por favor Senhor Mágico, nunca te
pedi nada, me deixe rico”. “Claro meu jovem, aliás por que você mesmo não se
torna o novo Mágico de Oz”. “Ter minha própria cidade feita de Esmeraldas?
Claro!”
O banho de água fria não veio
muito depois de e eu terminar de ensaiar mentalmente o discurso que daria, em
inglês e português, nas palestras fícticias sobre minha história de sucesso, pois os sites de emprego não pareciam
concordar com essa importância toda do inglês e continuavam a exigir que as
pessoas tivessem outras habilidades para conseguir um emprego melhor. Exigir,
de mim, que fazia parte da elite dos 5%,
uma outra habilidade fora o inglês, que disparate!
Precisava de um plano para
conseguir um emprego melhor, para isso eu deveria manter o status quo até que encontrasse a vaga perfeita (ou qualquer uma que
pagasse plano odontológico já estava ótima). Tive um lampejo, percebi que sendo
um professor de inglês eu estava me sabotando, levando mais pessoas para o
grupo exclusivo a que eu pertencia, formando novas pessoas que falavam inglês e
para o meu azar tinham também outras habilidades. Eu era o principal motivo do
meu fracasso (engraçado que meu pai também sempre me dizia isso).
Pedir demissão não seria o
suficiente, outro poderia tomar meu lugar e eu estaria fadado a meses de pão
com presunto. Ensinar mal poderia atrasar o processo,mas precisava ir mais
longe que isso. Foi aí que decidi me tornar o “Anti-Teacher” e passar a ensinar
o mais errado possível. Ensinar tão errado, gerar tanta desinformação, que nem
com uma mágica aquelas pessoas conseguiriam colocar a cabeça no lugar e
aprender alguma coisa! AI AM GO TXICH BAD ENGRISH TOMOROU!
Amanhã meu plano maquiavélico começará e só
terá dois possíveis resultados: um emprego melhor ou minha demissão. Qualquer um dos dois me permitirá ir nos
churráscos de sábado a tarde novamente.
Ao Mestre, com rebeldia!!!
ResponderExcluirAdorei..rs pra variar!!!
Quantas vezes nós, meros mortais já nos pegamos imaginando vinganças simples assim?rs Perdi as contas dos meus mal fadados planos para conquistar o mundo!
Beijo
oooi, tudo bem?
ResponderExcluirUm texto profundo, mas que expressa sentimentos de muitos.
TEM HORA QUE DÁ VONTADE DE JOGAR TUDO PRO AR E DEITAR NA PAULISTA (VAZIA) E CONQUISTAR O MUNDO! haha
PROMOÇÃO DOIS ANOS DO BLOG BIO-LIVROS
Olá.
ResponderExcluirQuem nunca quis jogar tudo para o ar vez ou outra, não? Sem falar que voltar a ir aos churrascos de sábado é uma boa tentação. haha
Ótimo conto, como sempre.
Desbravador de Mundos - Participe do top comentarista de julho. Serão quatro livros e dois vencedores!
Oiii!!!
ResponderExcluirInfelizmente essa eh uma dura realidade né Paulo...
Abandonar td e ir em busca de novas conquistas e melhores coisas é sempre mto tentador!
Parabéns, conto tá excelente!
Bjs!
é super normal ter esses lampejos de mudar e de finalmente ser livre do sistema e ousar, mas sempre acabamos desistindo e caindo novamente na rotina de ter sonhos do que poderia ser
ResponderExcluirhttp://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
mas pão com presunto é vida!!! hahahhahahha te entendo... e infelizmente, isso é comum nos dias de hoje.
ResponderExcluirOi.
ResponderExcluirParabéns, ótimo conto. Essa é a realidade da maioria das pessoas...querer , em algum momento, jogar tudo para o alto e ver no que dá! Mas acabamos por pousar na dura realidade e seguir em frente. Abraços.