RAZÕES PARA VIVER
Depois de semanas de fraqueza, enjoos e falta de apetite,
Regina conseguiu o retorno médico. Ele olhava os resultados dos exames e
anotava em um bloco vários nomes impronunciáveis. Em seguida, devolveu os
exames, entregou a receita médica e sem tirar os olhos do computador decretou:
autoimune.
Regina já suspeitava. Havia pesquisado seus sintomas várias
vezes no Google e o decreto do médico era um dos possíveis diagnóstico. Seu
corpo estava lutando contra ele mesmo.
Em casa, a sacola da farmácia pesava sobre a mesa. Aquelas seis
caixas de remédio haviam lhe custado 40% do seu orçamento. Naquele dia, ela não
teve forças para mais nada. Passou o dia na frente de TV, deitada no sofá, no
escuro.
Acordou de madrugada, com o grito de uma atriz em um filme
preto e branco de terror dos anos 60. Resolveu tentar dormir novamente, mas
apenas se revirou na cama até o Sol nascer.
O despertador tocou e agora ela se sentia exausta. Mas a casa
não iria se limpar sozinha já que no dia anterior Regina havia gasto seu tempo
com caminhada, ônibus, metrô, caminhada, consultório médico, caminhada, metrô,
ônibus e caminhada.
Varreu a casa toda, lavou os banheiros, lustrou os móveis. No
fim da tarde, sentou-se na frente da TV e assistiu todos os noticiários
possíveis.
Quando o sono se aproximou, resolveu se adiantar e correr para
o quarto, mas o sono fugiu. Fechou os olhos e tentou se enganar de que estava
dormindo, mas seu plano não deu certo. A pia pingava no andar de baixo, um
cachorro latia em algum lugar do bairro, um pernilongo voava pelo quarto, a TV
do vizinho estava ligada.
Mais um dia nasceu e ela estava acordada ainda.
No lugar do pão, da manteiga, do leite e do café, havia pílulas
brancas, coloridas, grandes e minúsculas. Ela as encarou por alguns minutos.
Pensou se valia a pena abrir mão da vida que tinha pelos efeitos colaterais
daqueles medicamentos que não iriam curá-la, mas apenas, talvez, estabilizá-lá.
Ela juntou todos os remédios, foi até o banheiro e levantou a
tampa. Não valia a pena. Não valia…
-
Mãeeeeee! Mãe, você tem que ver o peixe que eu pesquei,
muito maior do que o do papai!
Eduardo correu e abraçou a mãe pela cintura.
-
O que você tá fazendo no banheiro?
-
Nada, meu amor.
Regina limpou os olhos molhados com as costas das mãos.
Eduardo implorava para o pai mostrar o peixe para sua mãe. Ele
estava feliz com a viagem com o pai, mas estava ainda mais feliz de estar de
volta para casa.
-
Mãe, faz um miojo pra mim? Tava com saudades já.
Regina foi ao encontro dos dois.
-
Tava com saudades de mim ou do miojo?
Eduardo ficou encabulado, mas respondeu:
-
Dos dois, ué?
Seu marido se aproximou e beijou sua testa.
-
Amor, você melhorou?
Regina olhou seus dois amores, guardou os remédios no banheiro
e foi para cozinha. E antes que seu marido repetisse a pergunta, ela sorriu e
respondeu:
-
Não, mas vou ficar.
Puxa...é um misto de sentimentos ler um conto assim. Me veio Contos Amargos na hora..que eu sofri muito. E neste acima, também...As vezes, queremos tanto parar a dor, parar a vida...mas tem sempre algo ou alguém mais forte, que não nos permite simplesmente, desistir...
ResponderExcluirHoje foi dolorido o conto...mas fez bem a alma!!
Parabéns!!!
Beijo
Adorei o conto!! Muito interessante e importante um conto desses para as pessoas saberem que não podem desistir!!
ResponderExcluirBeijoss
Um conto que mostra que tudo na vida tem uma segunda chance para queira tentar, viver a vida e aproveitar cada momento, as horas e se possível os segundos, desistir nunca persistir sempre.
ResponderExcluirAté mais!!!
Que lindo Felipe!
ResponderExcluirEnsina a não desistir, e que família é super importante quando se trata de melhorar!
Vou mostrar esse conto pra outras pessoas, que pode ajuda-las muito!!!
Obrigada! ;)
Felipe!
ResponderExcluirPor amor a família, fazemos tudo, até tomar remédios e aceitar os efeitos colaterais, porque a família nos estímula a continuar vivendo, seja lá de que forma for.
“A sabedoria dos homens é proporcional não à sua experiência mas à sua capacidade de adquirir experiência.” (George Bernard Shaw)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE MAIO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Fiquei encantada Felipe, um conto realista, com momentos tristes, alegres, doces e as vezes amargos como a vida ! Bjs
ResponderExcluirFelipe que conto mais lindo, estou emocionada aqui, amei dmais!!
ResponderExcluirParabéns!!!
Que lindo!! Quando o desânimo chega e a vontade de desistir é grande, sempre penso muito na minha filha, na minha família. Bjs
ResponderExcluiremocionante e realmente faz jus ao título, encantada pelo seu talento para escrever
ResponderExcluirhttp://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
O que o amor não pode fazer? Eu me emociono demais quando leio sobre isso. Sobre o poder do amor e da família. Tudo que torna o ser humano único e ao mesmo tempo tudo.. amo amo amo
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